quando
espectáculo de dança, palavra e movimento num vale da serra de monchique
2020/21


"quando é sobre o poder fundador da fala. É sobre a terra. Há uma sala no bosque onde os arquivos respiram. As palavras fossilizadas nas páginas são como pedras que nos cortam o fôlego. No sossego agitado das crateras, que são casas de terra, escavam-se possibilidades e esculpem-se ideias pela noite. Vamos devolver aos animais a sua transumância. Com o tempo, os rios da ficção e da realidade confluem numa difusa matéria de hipóteses. Fragmentos crus da vida real serão transformados pela máquina de filmar em objectos de ficção, transformando fronteiras que se tinham levantado para projectar um futuro. quando é uma enorme instalação viva e misteriosa cheia de acontecimentos que saltam fora dos ecrãs da vida para entrar no coração do público. Um trabalho em curso que procura a terra como elemento primordial e como lugar do existir."









direcção artística MADALENA VICTORINO / colectivo artístico ALMA GIVON WHITELEGG, ANA ROOT, ARMÉNIO RAIMUNDO, ANTÓNIO TORRES, INÊS FARIA, JOANA GUERRA, JOANA MARTINS, JOÃO TUNA, JOSÉ TORRES (ENANO), MARIA ROOT, MARIANA ROOT, MATILDE REAL, PEDRO SALVADOR, RICARDO MACHADO, RITA RODRIGUES, RÉMI GALLET, REZART ASLLANI, ROSÁRIO PINEHRIO, SOFIA VON METZINGEN, VALENTIN VALENTIN / imagem JOÃO TUNA / direcção técnica e desenho de luz JOAQUIM MADAÍL / produção LAVRAR O MAR COOPERATIVA CULTURAL / produção executiva MELANI AFONSO / apoio à produção INÊS MELO SOUSA e CAROLINA REIS / fotografia JOÃO MARIANO / vídeo DIOGO GRILO / guias CAROLINA REIS, INÊS MELO SOUSA, MARTA LUZ, REBECA VENDRELL, VASCO ALMEIDA / prefácio para o livro “manual de boas práticas para a organização de eventos artísticos no espaço público”, da outdoors portugal MATILDE REAL e MADALENA VICTORINO





“Aqui testa-se a transformação de uma mulher em terra. Aqui devolve-se aos animais à sua transumância. Precisamos de acreditar que depois disto virá uma revolução humana. Vamos ver se vos levanto com estas palavras escuras. Davi Kopenawa, um xamã da Amazónia, diz que para falar com firmeza temos de inscrever no nosso peito a imagem de um gavião, que indica à nossa garganta como falar bem, sem que as palavras saiam emaranhadas. Permite-nos estender as palavras em todas as direcções. Os que não acolhem essa imagem no peito ficam com pele de fantasma e dão pena de ouvir. Digo-vos já que deixar cair o céu é uma ideia consideravelmente suicida. Eu sei que vocês sabem isto. Estamos a arrancar as raízes do céu. Do fundo da Terra saem estacas de metal que seguram o céu. Mas estamos a escavar a Terra e a tirar todo o metal. O céu vai cair e ninguém terá força para amparar a sua queda. É a Terra que segura o peito do céu. Sabiam, não sabiam?“






prefácio de Matilde Real e Madalena Victorino

















fotografias de João Mariano